Coisas que nunca mudam...Avanços
e Retrocessos
*Marília do Amparo Alves Gomes
O
Estado tentando resolver seus "problemas sociais" como caso de
policia e não com politicas públicas é um exemplo disso...
Os
inúmeros aplausos da sociedade brasileira diante da moda da
"Internação compulsória" no Rio de Janeiro e São Paulo nos
mostra o quanto o problema do uso de drogas merece maior atenção do Estado.
Com a implantação dos CAPS ad - Centro
de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, nós, pobres mortais trabalhadores do
Sistema Único da Assistência Social, pensávamos e celebrávamos os avanços no
tratamento dado aos indivíduos usuários de drogas, o lema do avanço era “ Não
ao tratamento longe da família, sim à convivência comunitária”. É de
entristecer a situação dos CAPS, que no geral não atende a todos os municípios,
os municípios pequeno porte I, não são contemplados com CAPS, nem outros meios
de acompanhamento dos usuários de drogas.
A prevenção é de forma precária, não
há investimento suficiente na educação, ficando a cargo de ações isoladas dos municípios
ações afirmativas para sanar o problema. Os profissionais da Assistência Social
e Saúde especialmente de municípios menores, que convivem cotidianamente com as
situações dos usuários e familiares, encaminham, fazem contatos, e a resposta é:
não tem perfil, não tem vaga, o município não tem perfil pra CAPS.
Sendo assim, havendo apenas
pequenos programas de prevenção por meio dos CRAS, sem o suporte necessário, as
grandes metrópoles brasileiras aparecem com a solução: INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA,
internar sim, se preciso arrastar, levar à força, cenas de varias pessoas para
carregar apenas uma. E isso tudo concidentemente em ano de preparativos de
eventos com repercussão internacional Copa do Mundo, Olimpíadas, Jornada
Mundial da Juventude, e há quem acredite que isso é apenas consciência.
Há aí uma ação higienista, não nova,
mas bem remota, me lembra a “Nau dos loucos”, ou as ações manicomiais.
Não posso
acreditar que ações deste tipo objetivam o bem estar dos usuários, sabemos que
para a “recuperação” exige ações integradas, e exige também a vontade do
individuo. Não me permitindo entrar na área dedicada aos caros colegas psicólogos
e psiquiátrias, me contento em dizer que não creio na “recuperação” realizada à
força, nem que isso resolva o problema, o que resolve sim, é o apoio às famílias,
é enxergar que o uso de drogas é apenas uma face do problema, o que há de se
questionar é o que leva ao uso de drogas; que relação tem isso com violência,
pobreza, e outras questões;
O grito de socorro não é dado
apenas pelos que estão nas cracolândias dos grandes centros, “atrapalhando e
sujando” as cidades; o grito é dado também pelos favelados, que não são mostrados,
pelos adolescentes à margem, pelos pais e mães de famílias desamparados que
vivem miseravelmente.
*Marília
do Amparo Alves Gomes é Assistente Social, Especialista em Serviço Social, Saúde e Assistência
Social; Militante da Pastoral da Juventude; Pós Graduanda em Políticas Públicas
de Gênero e Raça – UFBA.